25 junho 2007

INFÂNCIA


"A difícil realidade das crianças e adolescentes brasileiros

O Brasil parece marcado em sua alma pelo abandono social. Muitos autores tentaram explicar este fenômeno. Grande parte das tentativas de explicação centraram seus argumentos na nossa cultura política. Em nosso sangue correria um hábito “patrimonialista”. O patrimonialismo teria origem nas relações de subordinação que existiam no interior da Casa Grande, na época da escravidão: as amas de leite e seus filhos que perambulavam pela Casa Grande eram considerados “quase iguais”. Eram tutelados, protegidos, mas não ouvidos. Em suma, uma relação falsa, cínica, em que as brutais desigualdades eram tratadas como meras diferenças. Francisco Weffort, escreveu um texto em que defendia a noção de “dualidade” da sociedade brasileira: uns votam, como exercício formal para confirmar o que historicamente sabemos, que quem vota não governa e apenas legitima a outra parte, detentora do real poder de decidir.
Alguns segmentos sociais de nosso país sentem mais de perto as conseqüências de nossa cultura política. Um desses segmentos é o composto por crianças e adolescentes. No primeiro trimestre deste ano foi registrado um crescimento de 145% no número de denúncias de abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes se comparado ao mesmo período de 2001. O levantamento foi realizado pela Abrapia (Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência), em parceria com o Ministério da Justiça. O maior crescimento (180%) foi verificado no número de casos de abuso sexual: 60 em 2001 contra 168 casos neste ano.
Mas, qual a relação desta informação com o patrimonialismo? Ocorre que em 80% dos casos de abuso sexual, a violência é cometida por alguém que a criança ou adolescente ama e confia. Em 62% dos casos o autor do abuso é alguém da própria família, em especial, pais e padrastos. Em 79% dos casos, o ato ocorre dentro da casa da vítima. O horror que emerge nas entrelinhas desses dados é que tais adultos abusam de indivíduos psicologicamente indefesos. Na faixa etária entre 5 e 8 anos de idade, a criança possui uma dependência moral e psicológica quase total, enfrentando um duro percurso de inserção nas regras da sociedade. Quem ensina o percurso à criança é o pai ou adulto mais próximo afetivamente. Piaget denominou tal fase de egocêntrica e percebeu em suas pesquisas que os pais confundem-se no imaginário das crianças com a figura de Deus.
Contudo, o drama de nossas crianças e adolescentes não se limita ao espaço doméstico. A cultura patrimonialista viceja nas políticas públicas. Segundo a ONU, apenas 1/3 das metas estabelecidas durante a Convenção sobre os Direitos da Criança, ocorrida em 1990, foram alcançadas pelo Brasil. O documento da ONU revela que, das 27 metas estabelecidas, o Brasil atingiu apenas 9 e cumpriu parcialmente mais 11. Se atingimos as metas de erradicação da poliomielite, redução de casos de sarampo e cobertura acima de 90% da população-alvo em todas vacinas infantis, não conseguimos cumprir as metas de erradicação do trabalho infantil. O grande ponto negativo foi o atendimento aos adolescentes infratores, considerados “avanços muito tímidos” no relatório. Não atingimos justamente as metas mais diretamente vinculadas à mudança de hábito cultural. De nada adianta salvarmos as vidas de crianças e adolescentes se não sabemos tratá-las como tal, se não sabemos educá-las, se nós, adultos, continuamos olhando para uma criança como se fossem “pequenos adultos” ou “coisas inferiores”.
RUDÁ RICCI "
A postagem do texto acima é uma ilustração sobre o assunto que trabalharemos nas disciplinas iniciadas na aula do dia 20/06.Acredito que será um assunto bem extenso e muito importante para meu aprendizado e de grande aproveitamento no meu trabalho diário.

3 Comentários:

Blogger Adriana Irigaray disse...

Bom dia Izolete, o abuso de nossas crianças parece não ter fim. Fiquei indignada essa semana, ao ler uma reportagem na zero hora, em que uma menina de 14 anos, foi morta, em um assalto, quando estava com seu namorado de 28 anos, às 02:horas da madrugada, na rua. Onde está a responsabilidade dos pais, que deixam uma criança de 13 anos, começar a namorar? É preocupante, a situação que estamos vivendo.
Bom final de semana!
Bjs....
Adriana

9:28 AM  
Blogger Iris disse...

Olá, Izolete

Interessante é que este pensamento de que o "hábito patrimonialista corre em nosso sangue" traz a idéia de que isso está (in)corporado.
Isso me faz pensar que este tipo de "explicação" leva à impotência, ao conformismo. Como posso pretender mudar / alterar o que faz parte do corpo?
Acredito que uma boa escola pode fazer muito, mesmo tendo informações de escolas ameaças por processos, quando se atreveram a levar problemas desta natureza ao conselho tutelar.
As "investigações" dão em nada, a criança recua por medo e a família que abusa se enche de razão e ainda quer "faturar algum", na justiça.
Abra@os, Iris

10:03 AM  
Blogger Kátia Diehl. disse...

Oi Izolete ! De fato estamos vivendo num verdadeiro caos ! A falta de estrutura familiar, o descaso das autoridades políticas, a concentração de renda, a exploração infantil em todos os sentidos ...a vida está difícil !
O que fazemos é uma gota d"água, mas de gota em gota podemos melhorar o Brasil !
Um bom final de semana !
Beijos !
Kátia Diehl

10:09 PM  

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